Correio Braziliense – Os funcionários seriam ligados ao distrital Robério Negreiros (PSD). O político nega, mas o atual superintendente do órgão foi funcionário em seu gabinete.
Funcionários do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) divulgaram um documento em que denunciam a contratação de pessoal não especializado para trabalhar diretamente com documentos do órgão. As 19 contratações são, principalmente, para cargos na coordenação de arquivo permanente e coordenação do sistema de arquivos e uma vaga na assessoria de imprensa. Nos setores, os funcionários trabalham com documentos históricos da fundação da capital que datam de 1892.
Intitulado SOS Arquivo Público do DF, o texto afirma que o órgão está em perigo, e discorre sobre a importância dos setores, que também recebem documentos relacionados à gestão de todo o governo, inclusive documentos secretos, e sobre a importância do próprio ArPDF, de conservar a história da capital e fornecer informações para tomadas de decisões governamentais e aplicação de políticas públicas.
Uma fonte do órgão disse à reportagem do Correio que, nos corredores, a conversa é que “o Arquivo Público é do Robério”, fazendo menção a Robério Negreiros, distrital reeleito do PSD. “Isso está público, não é informação privilegiada”, garantiu. De acordo com a mesma pessoa, grande parte dos nomeados já se conhece da última campanha eleitoral do distrital. Na gestão anterior, os cargos dos dois principais setores eram ocupados por 14 arquivistas e 4 historiadores.
Uma funcionária do órgão concordou em conversar com a reportagem sob a condição de não se identificar, por medo de retaliação. Ela ressaltou que não tem nada contra as pessoas contratadas, mas, como elas não têm formação adequada, a intenção é proteger o ArPDF. Segundo a entrevistada, também não houve nenhum diálogo com os funcionários do órgão, ninguém foi ao local para saber como é o quadro de funções e quais as competências necessárias para desenvolvimento de atividades.
“Precisamos alertar quem tem poder”, pediu a funcionária. “Não temos que atacar as pessoas, mas o sistema de nomeações sem o respeito pela cultura institucional e pelos técnicos da instituição”, acrescentou. Ela também disse acreditar que há um preconceito contra uma instituição de memória.
“Não sei nem onde fica”
Por telefone, Robério Negreiros negou que tivesse qualquer ligação com as nomeações no ArPDF. “Primeiro que eu desconheço isso. Eu não tenho cargos no executivo. Não tenho esse tipo de coisa. Eu desconheço e não posso falar sobre o que eu desconheço”, afirmou. “A balela que está tendo aí é que as pessoas ficam repassando que ‘a’, ‘b’, ‘c’ ou ‘d’ tem cargo cargo. Os cargos são do governador. Eu não tenho esse tipo de discussão. E eu não sei do que se trata”, completou.
O parlamentar também negou que tivesse qualquer contato anterior com o órgão. “Você deveria ligar para as pessoas que estão lá. Às vezes estão usando meu nome indevidamente. Eu não tenho espaço no governo e, a priori, eu quero apenas observar. Não estou fazendo indicação formalizada nenhuma. Agora, se a pessoa votou em mim, ou eventualmente tenha votado, não quer dizer que essa pessoa seja indicação minha. Até mesmo porque meu partido não apoiou o Ibaneis no 1º Turno”, argumentou.
Em outro ponto da conversa, o distrital reclamou de notícias falsas envolvendo seu nome. Por fim, afirmou que o GDF é quem precisa de cuidar das nomeações do ArPDF. “O governo que tem que ver isso. O Poder Executivo. Eu não sou o Poder Executivo.” Questionado sobre uma possível ligação com o órgão em outras gestões, ele também negou. “Nunca tive. Não sei nem onde fica. Falo com sinceridade total. Agora, eu acho que nomeação em governo, você faz a nomeação. Se a pessoa não se adequar, substitui.”
Posteriormente, a reportagem apurou que o atual superintendente do ArPDF, Gilson Roberto de Abreu é ligado ao parlamentar e foi integrante do gabinete de Robério. Apurou, ainda, que funcionários do órgão indicam, para quem telefona pedindo emprego, que procurem o gabinete de apoio do distrital, que fica no Conic.
Questionado sobre a ligação com Gilson Roberto de Abreu, o parlamentar admitiu que o superintendente foi funcionário dele, mas disse, também, que ele tinha participado de diversos outros órgãos do GDF em outras gestões, dando a entender que ele não tem relação com a nomeação. Gilson foi nomeado para o gabinete do distrital em 2016 e para o ArPDF em 17 de janeiro. Questionado, Robério disse não saber quando ele se desligou e ficou de informar a data.